Saúde de A a Z

E quando o meu filho não come?

Para muitos pais e cuidadores estar à mesa é um momento tenso e de conflito pela recusa das suas crianças em aceitar certos alimentos. Este sentimento é-lhe familiar e quer saber como ultrapassá-lo? Continue a ler!


Ao deixarem a alimentação láctea exclusiva, e para garantir que as necessidades energéticas e nutricionais são cumpridas, os bebés começam, a partir dos 6 meses, a introduzir novos alimentos no seu dia-a-dia. No entanto, muitas vezes, os pais e cuidadores deparam-se com a falta de recetividade e medo (do sabor, consistência, textura) de novos alimentos (ou a alimentos já conhecidos, mas servidos de forma diferente da habitual). Este comportamento é designado como neofobia alimentar e pode desenvolver-se desde a introdução alimentar, mas sobretudo manifesta-se entre os 2 e os 6 anos de idade.

A neofobia alimentar poderá ter como base fatores biológicos, psicológicos, antropológicos e socioculturais. Uma das explicações para este tipo de comportamento alimentar acontecer poderá ter a ver com o facto de, primitivamente, termos resistência a experimentar novos sabores e alimentos pelo perigo de ingerir substâncias tóxicas de forma a assegurar a sobrevivência. Evidência recente aponta para que as crianças que são amamentadas, têm maior probabilidade de aceitar novos sabores, uma vez que foram expostas a estes fruto da alimentação da mãe. O mesmo se verifica em mães que diversificaram muito a sua alimentação durante a gestação. Sabe-se também que, quanto mais cedo forem introduzidos novos alimentos, melhor uma vez que esta aptidão é maior até ao primeiro ano de idade, diminuindo ao longo do tempo. No entanto, muitos outros fatores são tidos em conta como o sexo, traços de personalidade, comportamento dos pais/cuidadores na hora da refeição, entre outros.

Outro tipo de comportamento alimentar bastante comum é a recusa e seletividade alimentar. Apesar de facilmente confundido com a neofobia alimentar, este tipo de comportamento caracteriza-se pela rejeição tanto de novos alimentos como alimentos já conhecidos da criança, o que resulta numa alimentação baseada num número limitado de alimentos, comprometendo assim um dos princípios de uma alimentação saudável: a variedade.

No entanto, e apesar de ser natural nesta fase de crescimento e adaptação ao mundo, esta negação aos alimentos pode conduzir a falta de variedade alimentar e a monotonia alimentar, o que poderá levar a carências nutricionais (particularmente de vitamina E, folato, cálcio, zinco e fibra). Nomeadamente, um dos grupos alimentares mais evitados pelas crianças é um dos mais ricos em micronutrientes (vitaminas e minerais): o grupo dos hortofrutícolas, provavelmente devido ao seu sabor ser mais ácido ou amargo e as crianças tenderem a preferir sabores mais doces e salgados.


E como poderá contornar este tipo de comportamento?

- Tudo começa ainda antes de irmos para a mesa! Inclua as crianças na preparação das refeições, mostre-lhes onde e como é que os alimentos crescem e onde os compra. Ao estarem familiarizados com a textura, cheiro, consistência do alimento, é mais fácil aceitarem-no.

- As crianças agem por curiosidade e imitação, daí ser importante o papel dos pais e dos cuidadores na hora de estar à mesa: se a criança vir um adulto em quem confia a provar e comer o alimento e, inclusivamente, a tecer comentários positivos sobre o mesmo, reforça a probabilidade de consumo desse mesmo alimento.

- O ambiente de refeição deve ser o mais calmo e positivo possível (sem recurso a pressão/chantagem), por exemplo: “só se comeres tudo o que tens no prato é que podes ir brincar”. As distrações (como a televisão, tablet, jogos e estratégias como o “aviãozinho” devem ser deixadas de lado).

- Não desista à primeira! Quanto mais vezes oferecer o mesmo alimento recorrendo a apresentação, forma de confeção, temperatura diferentes, maior a probabilidade de as crianças aceitarem esse mesmo alimento. Estima-se que uma criança tenha de ser exposta pelo menos, cerca de 15-20 vezes para aceitar determinados alimentos.

- Aproveite os alimentos que o seu filho mais gosta para introduzir os outros que ele não aprecia tanto. Por exemplo, se ele adora cenoura, mas não gosta de grão-de-bico, tente oferecer palitos de cenoura com húmus (pasta de grão de bico), assim começa a conhecer os sabores e a habituar-se aos mesmos se os acompanhar com algum alimento que lhe seja familiar.

- Não ceda à tentação de lhe dar “uma bolachinha, porque ele/ela não comeu o suficiente ao jantar”. Se a criança souber que tem à sua espera uma sobremesa ou um snack caso não coma a refeição principal, mais facilmente não come o que tem no prato.


Identificar o mais cedo possível este tipo de comportamentos alimentares e saber que estes são possíveis de contornar com recurso a certas estratégias é essencial para determinar hábitos alimentares saudáveis no futuro destas crianças. Caso precise de ajuda para aplicar estas estratégias, conte com a nossa equipa!


Nutricionista

Catarina Paixão