Saúde de A a Z

A Tiróide e a Alimentação

A tiroide é uma glândula do tamanho de uma ameixa em forma de borboleta que se encontra abaixo da maçã-de-adão, no pescoço. Tem a função de regular o metabolismo do corpo, vital para o bom funcionamento de outros sistemas. Esta pequena glândula produz e armazena as hormonas responsáveis pelas suas funções: a triiodotironina (T3) e a tetraiodotironina (T4 ou tiroxina).


Estima-se que os distúrbios da tiroide afetam cerca de 1 milhão de portugueses. Afetam tanto mulheres como homens, mas são 8 vezes mais frequentes nas mulheres. Os distúrbios mais conhecidos são o hipotiroidismo e o hipertiroidismo e o seu tratamento é, geralmente, médico.


O hipotiroidismo é uma disfunção caracterizada pela produção insuficiente de hormonas. Os sintomas mais comuns são o cansaço, depressão, dores musculares, sensibilidade ao frio, pele e cabelo secos e aumento do peso, fundamentalmente retenção de líquidos.


O hipertiroidismo corresponde ao excesso de produção das hormonas da tiroide que são libertadas na corrente sanguínea. Os sintomas passam por insónias, intolerância ao calor, palpitações, aumento da frequência cardíaca, irritabilidade, menstruação irregular, aumento do trânsito intestinal e perda de peso, apesar do aumento do apetite.


Parte da prevenção das disfunções da tiroide decorre de hábitos alimentares saudáveis. Sabe-se, por exemplo, que a carência em iodo e selénio pode provocar o aparecimento de hipotiroidismo.


No caso do iodo, o consumo de uma porção de pescado (peixe magro, peixe gordo, moluscos, bivalves e crustáceos) e de 3 porções de lacticínios permite alcançar a dose diária recomendada, de 150 µg no adulto. Dentro da alimentação vegan identificam-se as algas, como a chlorella e a spirulina, com quantidades variadas de iodo, pelo que a sua ingestão deve ser limitada a 3 a 4 vezes por semana. O sal iodado, na quantidade recomendada de sal é outra opção de aproximação da dose recomendada, pelo que a troca do sal convencional por sal iodado pode ajudar a suprir as necessidades diárias . O défice de iodo é problemático, mas o mesmo sucede com o seu excesso, podendo desencadear tanto hipotiroidismo como hipertiroidismo. Por este motivo, deve haver cautela quanto à toma de suplementação alimentar devido a doses que por vezes superam por várias a centenas a dose diária recomendada de iodo.


O selénio é encontrado na alimentação no pescado (como o iodo), carne, frutos secos gordos e sementes, ovo e cereais e derivados. A sua dose diária recomendada é de 55 µg e pode ser atingida pela ingestão de uma porção de pescado. O consumo de quantidades excessivas de selénio também pode causar náuseas, descoloração e fragilidade das unhas, queda de cabelo, fatiga irritabilidade e mau hálito (“hálito a alho”). A sua suplementação deve ser apenas feita sob recomendação.


Alguns alimentos são conhecidos por poderem interferir na função da tiroide, um exemplo são os vegetais crucíferos ou brássicas, como os brócolos, rúcula, couve-de-bruxelas, couve-flor, repolho, couve chinesa, couve-galega, rabanete, agrião, folhas de mostarda, bok choy e o nabo. Este conjunto de alimentos que contém antioxidantes associados a propriedades anticancerígenas, também podem potenciar o hipotiroidismo se consumidos regularmente em grandes quantidades, particularmente crus.


Outro exemplo de alimentos que podem interferir com a função da tiroide é a soja e produtos à base de soja, como a bebida de soja, tofu, tempeh, miso e molho de soja, por conterem isoflavonas. Colocava-se a hipótese que o consumo de soja podia aumentar o risco de hipotiroidismo em pessoas com níveis adequados de hormonas da tiroide ou que poderia ser necessário aumentar a medicação em pessoas com tratadas para o hipotiroidismo. No entanto, este parece não ser o caso, salvo situações muito específicas (neonatais com hipotiroidismo congénito).


Há outros nutrientes que por fazerem parte da produção e regulação das hormonas da tiroide estão associados ao bom funcionamento da glândula. No entanto, não é claro o benefício da sua suplementação ou aumento do consumo das suas fontes alimentares para este efeito.


Destaca-se que a alimentação equilibrada é também uma medida preventiva para a disfunção tiroideia e patologias associadas.


Para questões adicionais e para casos particulares, informe-se com a sua equipa de profissionais de saúde para uma recomendação personalizada.


Nutricionista

Catarina Afonso

Nº Ordem dos Nutricionistas 3441N



Referências bibliográficas:


  • Sociedade Portuguesa de Endocrinologia Diabetes e Metabolismo. Tiróide. Lisboa: Sociedade Portuguesa de Endocrinologia Diabetes e Metabolismo. Consultado a 2023 Abr 7. Disponível em: https://www.spedm.pt/pt/glandulas-e-doencas-endocrinas/tiroide-2

  • Mezzomo TR, Nadal J. Efeito dos nutrientes e substâncias alimentares na função tiroidiana e no hipotiroidismo. Demetria: Alimentação Nutrição e Saúde. 2016; 11:427-43

  • Medicine I, Meyers LD, Hellwig JP, Otten JJ. Dietary Reference Intakes: The Essential Guide to Nutrient Requirements. National Academies Press. 2006

  • Bashar A e Begam N. Role of dietary factors in thyroid disorders: A primary care perspective. Medical Research and Innovations. 2020; doi: 10.15761/MRI.1000172

  • Direção-Geral da Saúde. Linhas de orientação para uma alimentação vegetariana saudável. Lisboa: Direção-Geral da Saúde. 2015

  • Ventura M, Gueifão S, Coelho I, Delgado I, Rego A, Castanheira I. Identificação de alimentos ricos em selénio e iodo consumidos pela população portuguesa. Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge. 2016

  • Delgado I, Coelho I, Ventura M, Rodrigues S, Ferreira M, Silva JAL, Castanheira I. Análise comparativa do teor de iodo em lacticínios e bebidas vegetais consumidas em Portugal. Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge. 2018

  • Delgado I, Coelho I, Andrade P, Antunes C, Castanheira I, Calhau MA. Quantificação de iodo em alimentos consumidos em Portugal: resultados preliminares. Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge. 2016

  • Leko MB, Jureško I, Rozić I, Pleić N, Gunjača I e Zemunik T. Vitamin D and the Thyroid: A Critical Review of the Current Evidence. International Journal of Molecular Sciences. 2023; 24(4), 3586